Importa primeiro definir mapa astrológico natal. No momento exacto da primeira respiração de um indivíduo aquando o seu nascimento, nesta encarnação, os corpos celestes (como planetas, Sol e Lua) estavam numa determinada posição no nosso sistema solar. O mapa astrológico natal representaria uma fotografia à posição dos corpos celestes nesse instante, observados num determinado ponto do planeta Terra.
Neste sentido, ao nascermos, reproduzimos, à nossa escala, o jogo de forças que se passa no Universo, transformando-nos no que poderíamos designar por uma espécie de micro sistemas solares. Esta matriz energética, impressa no nosso ADN, é o nosso bilhete de identidade cósmico. Importa sublinhar que esta matriz energética vai acompanhar-nos dinamicamente ao longo de todo o nosso processo de vida. Como afirma Confúncio:
“O poder da força espiritual é o cosmos - como é evidente em tudo! Ele é invisível para os olhos e silencioso aos ouvidos, inseparável de tudo e nada pode impedir.”
Para Plotino, filósofo neoplatónico, “O horóscopo é uma carta de amor de Deus codificada e dirigida ao ser humano." Esta carta de amor, escrita pela linguagem simbólica dos arquétipos dos planetas, não nos fala apenas de traços de personalidade — muito redutor —, ela transcende a persona. Ela expressa a energia daquela alma e a sua “tarefa” para esta encarnação.
Segundo Rudhar, “A astrologia é uma técnica da conquista da sabedoria." Efectivamente, a grande dádiva que a Astrologia nos traz é a abertura da consciência. Passamos a compreender, – à luz da nossa consciência, certos acontecimentos - ciclos da vida. Sentimo-nos mais livres, uma vez que entendemos que podemos escolher fluir com os ritmos e ciclos que estão mais harmonizados com a nossa essência e a nossa potencialidade. E é esta liberdade conectada, responsável e consciente, que nos move em direcção aos ciclos “mais favoráveis” para o crescimento de alma, que torna a Astrologia tão mágica e apaixonante – Astrologia Evolutiva.
A leitura do seu BI Cósmico – mapa astrológico – permite:
Compreender ciclos de vida;
Iluminar caminhos mais felizes em diferentes áreas – profissional, relações, grupos;
Iluminar pontos fortes e fracos;
Iluminar/ entender os dons, medos, respostas instintivas e condicionadas,
Entender padrões de relacionamento – família, parceiro (a), amigos;
Entender porque atraímos sempre o mesmo padrão de relações;
Compreender a força e habilidade necessária para passar por cada etapa da existência;
Entender a razão pela qual surgem situações desafiantes em determinadas áreas de vida – profissional, financeira, relações, família, saúde;
entre outros;
A título de exemplo, imaginemos um indivíduo com a seguinte configuração natal (BI cósmico): lua em conjunção com plutão. Possivelmente, esta assinatura energética, levar-lhe-á a sentir padrões de medo, insegurança, instabilidade emocional, apegos, capacidade de sentir para além da superficialidade, tudo é muito profundo e por vezes avassalador; pode haver tentativa de domínio e de controlo – consciente ou inconscientemente ou exploração dos sentimentos dos outros, poderá ter tido experiências traumáticas na infância, relação desafiadora e intensa com mãe. Apresentei a análise mais desafiadora, contudo, há obviamente aspectos positivos nesta mesma assinatura.
Considero que o mais relevante não é afirmar que o indivíduo tem essa proposta de “tarefa” no âmbito emocional, mas sim compreender o que significa essa matriz energética cósmica num campo mais vasto do seu processo evolutivo nesta encarnação, como ser espiritual que é. Nesta óptica, estamos na esfera da Astrologia Evolutiva. O indivíduo ao entender a “espada” que sente no seu peito, pronta para o ferir, quase como uma fatalidade do destino, ela deixa de ser “sentida” como uma “espada” e passa a ser apenas um novelo energético que carrega no seu ADN, na sua vibração, desde que a sua alma “entrou” neste plano. Quando o observador flui por essa energia sem medo, dissolvendo, curando o “novelo energético” mais denso, acontece um desbloquear de padrões. O “rio sem pedras” segue o seu curso sem atropelos, mais feliz, consciente da sua direcção, intento — o mar. De facto, é possibilitado ao indivíduo reconhecer que não está perante algo estático, antes dinâmico. Energia mutável. O “convite” ao longo da vida é: cura e transforma esse novelo energético, vive num Estado de Ser mais consciente – ultrapassa o véu – desperta do “sono”.
Importa levantar aqui algumas questões relevantes: será que todos sentimos o BI cósmico com o mesmo estado de consciência? Estamos igualmente conscientes da “proposta” dessa matriz energética que nos envolve e impele? Entendemos a sua mensagem? Sofremos ou nos é confortável no mesmo grau que todos os indivíduos? Somos vítimas desta matriz energética impressa em nós que se revela numa personalidade, em aptidões, propensões e tendências, em percursos de vida? Não. Somos seres individuais com diferentes níveis de evolução e consciência.
Nesta linha de visão, é interessante referir Dane Rudhyar, astrólogo incontornável do início do séc. XX , profundamente influenciado pelo pensamento de Carl Jung, que apresenta uma nova dimensão do estudo da astrologia - a Astrologia Humanista. A astrologia centrada na pessoa e não no evento. Segundo Rudhyar, “Se as acções de uma pessoa atendem sempre a necessidades profundas sentidas por ela, e originárias de seu próprio inconsciente, a astrologia deveria ser utilizada para facilitar a descoberta dessas necessidades profundas.”. Rudhyar foi revolucionário ao introduzir uma nova abordagem filosófica na astrologia a partir de conhecimentos psicológicos.
Numa perspectiva evolutiva, Rudhyar sublinha aquilo que entendo ser dos aspectos mais relevantes na leitura de um mapa astrológico: o indivíduo passa a compreender as forças inconscientes exercidas pela energia cósmica que habita em si e que “dirigem” o seu comportamento. A ênfase é colocada mais no universo interno e menos no acontecimento. Neste sentido, ele coloca o individuo como alguém que pode exercer poder sobre uma energia que aparentemente o comanda quase como se fosse uma fatalidade do destino restando apenas esperar “o acontecimento” chegar. Na verdade, tendo por base a Astrologia Humanista de Rudhyar, as forças planetárias indicam apenas um potencial que ocorreria face a um sistema próprio — personalidade. Como afirma SriYuktéswar, mestre de Yogananda: ”Astrologia é o estudo das reações do homem aos estímulos planetários. Os astros não têm qualquer benevolência ou aversão consciente; eles meramente enviam radiações positivas ou negativas. Ele pode transcender qualquer limitação, em primeiro lugar, porque possui recursos espirituais que não estão sujeitos à pressão planetária”.
Não somos vítimas, somos co-criadores de uma nova energia , de um novo Estado de Ser. Harmonizar as diversas faces das forças cósmicas que vibram na nossa essência, foi o desafio no qual nos propusemos a um outro nível.
Silvana Correia
Artigo Publicado na Revista Espaço Aberto
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